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A joia preciosa


Fim de tarde. Maresia. Barquinhos. Famílias. O feriado da padroeira do Brasil me reservou, mais uma vez, um final de semana em um dos meus lugares preferidos: a Baía da Traição. A 29 quilômetros de casa, costumo andarilhar pelas inúmeras e formosas curvas do município que sempre me levam a uma sucessão de praias paradisíacas e muitas delas desertas, o que faz florescer em mim um enorme sentimento de liberdade, como se ali estivesse só, ou com pouquíssimas pessoas.

É claro que não é bem assim. Por mais que possa haver tal sentimento.

A antiga Baía de Akajutibiró foi palco de uma emboscada realizada pelos índios potiguaras contra os portugueses, que foi citada em 1501 por Américo Vespúcio, o navegador, que chegou a informar tal situação ao então rei de Portugal D. Manoel. Dai a troca do termo indígena pelo nome Traição. Ao "perambular", muitas vezes observo a exuberância de sua natureza revestida da simplicidade de uma cidade que tem como base o turismo, ainda em desenvolvimento, e a consagrada pesca. Faz me imaginar como estou andando por um lugar palco de tantas - e importantes - batalhas. Batalhas...

Todos nós vencemos batalhas todos os dias. Cada um com a sua própria: para uns, algumas mais desafiadoras; para outros, menos. Deslocar-se diariamente de um bairro para outro bairro, de uma cidade para outra ou se mudar de um local para outro com a finalidade de realizar sonhos são desafios que muitas vezes parecem que vão nos sugar. Nos exigem calma, paciência. Porém estamos ali firmes e fortes. As vezes nem tanto, mas estamos.

Antes de chegar o fim de tarde, com os barquinhos à beira mar mas sujeito à maresia da "Baía" deparei-me diversas vezes com pessoas batalhadoras, tal como eu e você. E que sempre que as observo me fazem entrar numa autorreflexão sobre o quão sou resmungão: muitas vezes idosos e crianças catando latinhas na esperança de sobreviver. Nem sequer de viver, sobreviver. Expostos às mais adversas situações. Enquanto tantos se divertem e usufruem do paraíso (me incluindo) com seus modernos smartphones que expressam um valor monetário superior ao que diversas famílias têm pra sobreviver. Expondo a cruel realidade da desigualdade social brasileira que está presente nas mais diversas cidades, encabeçadas por uma falta de educação de qualidade e acompanhamento social.

Antes de chegar o fim de tarde, com o alaranjado refletindo sob às águas, também observo a árdua luta de toda uma cidade contra o avanço do oceano. Observo casas de veraneio destruídas por completo, carregadas pela força da maré, que também ameaça deixar toda a área urbana do município sem abastecimento d'água doce, já que está prestes a invadir o rio Sinimbú que abastece a cidade. Porém não canso de admirar a simplicidade do vai e vem dos barquinhos de pesca embalados com o ritmo da maré, dos cachorros de rua correndo beira-mar, das palhoças - com sua estrutura - que por mais frágeis que pareçam, resistem à maresia, das jangadas que chegam da pesca, das redes de pescar jogadas inúmeras vezes pelos pescadores próximos à praça central. Não canso de admirar o quanto mais de 500 anos depois da situação narrada por Vespúcio, o lugar ainda continua tendo batalhas.

É óbvio que não mais emboscadas contra a colonização.

Lutas diárias contra as injustiças sociais, contra as adversidades da natureza.

Expondo assim, de maneira sublime, a joia preciosa que é característica do povo brasileiro, que nós, sem dúvida alguma, herdamos dos habitantes nativos das "Terras de Tupiniquins": a persistência. Que é notadamente galgada numa humildade admirável.

Uma "garra" inexplicável de um povo batalhador.

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No charmoso pôr do sol no centro histórico de João Pessoa, Clara Ramos tem sua inspiração para uma deliciosa crônica.

Crônica: A joia preciosa

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